O OPERÁRIO DOS TUMULOS

Por Rogério Silvério de Farias

 

Cavas os derradeiros catres onde dormirão eternos, teus irmãos em dor, sonhos e fúria,
com a psicanálise freudiana da Morte, com sua foice afiada e letal.
Por onde andarão os sonhos errantes que valsavam nestas carcaças pútridas?
Vês os andarilhos da carne  (os senhores vermes), ossos e no silêncio sepulcral das metrópoles escutas as vozes dos que se foram.
O salário do pecado é a morte, mas o teu, intrépido coveiro, é o salário sombrio dos que enterram sonhos e esperanças aladas: a melancolia.
Teu trabalho é macabro, mesmo ao luar, como macabro é o Tempo que devora a todos.
Este aguilhão severo, o Tempo, que nos apodrece lentamente, como uma contagem regressiva para o túmulo, para o túmulo sempre e sempre.
No fundo, o coveiro é o operário dos túmulos, que
também apodrece em sonhos e esperanças destroçados pelo rio do Tempo e da Vida.
Não percebe ele que uma flor nasce em cada túmulo, sombria, invencível em meio à névoa do infinito colossal que nos absorve e absolve!
Por mil eras e por mil terras, enterrarás, nesta labuta lúgubre, o coração de homens que se tornarão terra!
Agora labutas em paz.




  

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